A reciclagem e reutilização de materiais continua a ganhar espaço e relevância na indústria da arquitetura e construção. Tal prática tem se firmado como uma importante alternativa aos métodos mais tradicionais de construção, oferecendo uma solução mais econômica e sustentável quando implementada de forma consciente. Além de contribuir substancialmente para a economia de recursos e matéria-prima, o estabelecimento de usinas de reciclagem também apresenta uma oportunidade para a geração de novos empregos, desde à coleta, o transporte e o processamento até a comercialização dos materiais e produtos resultantes dos processos de reciclagem. De forma complementar, estações de processamento de resíduos sólidos também podem incorporar sistemas de produção de energia, minimizando os custos operacionais e o impacto global da construção de tais edifícios.
Com o passar dos anos, nossas plantas de reciclagem evoluíram de simples galpões para se transformarem em complexos edifícios e mais recentemente, altamente tecnológicos. A medida que as cidades foram ampliando seus ciclos de coleta, segregação e processamento de resíduos, estas estruturas foram ganhando novas camadas, e consequentemente, projetos de arquitetura mais eficientes e sustentáveis — tanto facilitando os processos operacionais quanto promovendo um ambiente de trabalho mais seguro e saudável. Mas ainda assim devemos nos perguntar: qual o custo ambiental e humano destas estruturas? De que nos serve construir enormes edifícios para reciclar e reutilizar se a instalação destas mesmas estruturas resulta em um impacto global negativo ao meio ambiente?
São vários os espaços funcionais da cadeia de reciclagem, desde centros de coleta e armazenamento à espaços de triagem e segregação de resíduos. Outras importantes estruturas dentro deste circuito são as usinas de processamento, aonde resíduos podem ser transformados em fertilizantes e outras matérias-primas de origem orgânica. Em alguns casos, o lixo também pode ser utilizado para a produção de energia através da combustão.
Centros de coleta e triagem
Centros de triagem costumam operar em uma lógica produtiva linear e por gravidade e portanto, requerem especial atenção dos arquitetos quando se trata da distribuição do programa para que o fluxo de trabalho seja o mais eficiente possível. Além disso, da chegada do caminhão de matéria-prima à expedição dos resíduos para os subsequentes centros de processamento, a organização espacial do programa deve ser meticulosamente planejada para que não hajam sobreposições desnecessárias.
Central de Coleta de Resíduos Sólidos / Vaillo + Irigaray
O edifício da Central de Coleta de Resíduos Sólidos projetado por Vaillo + Irigaray na cidade de Huarte, Espanha, é uma estrutura de volumetria complexa revestida em chapas de alumínio reciclado de grande formato (2,5 mx 1,5 m), um edifício que expressa a sua função através de sua materialidade.
Centro de Recuperação de Materiais do Sunset Park / Selldorf Architects
O Centro de Recuperação de Materiais do Sunset Park de Nova Iorque opera através de um sistema fluvial, utilizando barcas para o transporte de matéria-prima e expedição, resultando em uma economia monumental de energia gasta com caminhões. Para o projeto do edifício os arquitetos empregaram materiais reciclados em quase todos os seus espaços e edifícios, os quais estão implantados sobre uma área de aterro construída com um composto feito de vidro reciclado, asfalto e rocha retirada durante as obras de construção do metrô da Second Avenue de Nova Iorque.
Centros de processamento
Centros de processamento também são responsáveis pela triagem de materiais recicláveis de origem incerta e misturados com substâncias tóxicas, resíduos não recicláveis, assim como o pré-processamento de materiais que serão encaminhados as fábricas de reciclagem. Estes edifícios demandam uma clara organização funcional e ventilação permanente de todos os seus espaços — mecânica e natural.
Centros de reciclagem
As usinas de reciclagem ou unidades de reprocessamento são responsáveis pela transformação da matéria-prima segregada em novos produtos. O projeto de um centro de reciclagem deve portanto ser capaz de acomodar as linha de produção, geralmente caracterizadas pela presença de maquinários de grande porte. Além disso, estes tipos de planta necessitam uma série de projetos complementares, como por exemplo, sistemas de resfriamento para as máquinas.
Centro de Reciclagem Milieustraat / Groosman
A estrutura das circulações existentes e o material dos pavimentos foram completamente reutilizados. Através da construção IFD (Industrial, flexível, desmontável), o edifícios também serão reutilizáveis no futuro.
Usina de Reciclagem de Metal / dekleva gregoric architects
Dividimos claramente a base entre espaço flexível para uso múltiplo e espaço muito específico, não flexível. Nestes termos, o enorme platô de concreto com uma parede de separação e o edifício maciço definem o núcleo de produção atual, no entanto eles facilmente permitem a mudança de programa dentro da zona industrial.
Usina de Reciclagem Smestad / Longva arkitekter
A Usina de Reciclagem de Smestad é um projeto muito ambicioso em relação à questões ambientais. O edifício foi totalmente projetado e construído com materiais de baixa pegada de carbono: concreto, tijolo de barro, madeira laminada colada e aço reciclado. Além disso, o jardim na cobertura contribui para o bom desempenho energético da estrutura como um todo.
Usina de energia
Usinas de energia utilizam materiais não processados de origem orgânica para a produção de energia através da combustão. Além do excedente energético, a queima de matéria-prima orgânica também resulta na produção de fertilizantes e adubos. Quando projetando ambientes como este, a segurança dos trabalhadores deve receber prioridade máxima por parte dos arquitetos responsáveis.
Usina de Energia a partir de Resíduos de Bolzano / Cl & aa Architects
A intenção da equipe da Cl & aa foi de reduzir o impacto visual de uma planta industrial, projetando um edifício coeso, cujas linhas e cores podem evocar o horizonte circundante, em equilíbrio entre o natural e o artificial, o que significa um paisagismo no seu melhor sentido.
É importante ressaltar que embora a construção de novas infra-estruturas de reciclagem possa contribuir substancialmente para com a salvaguarda do meio ambiente —minimizando o consumo exagerado de recursos naturais—, usinas de reciclagem também podem causar impactos negativos caso seus projetos não cumpram com uma série de exigências.
Portanto, para que todo este esforço não seja em vão, é imperativo que tais estruturas recebam a devida atenção por parte dos arquitetos. Isso também significa que para projetar uma usina de reciclagem, arquitetos e arquitetas precisam trabalhar lado à lado com uma série de outros profissionais e especialistas assim como devem incluir a participação da comunidade local em todos as etapas do projeto.
Centros de coleta, triagem e processamento de resíduos sólidos urbanos assim como usinas de reciclagem em todas as suas formas, representam hoje alguns dos principais agentes promotores do uso de materiais reciclados na construção civil. Isso porque muitas destas estruturas foram construídas com os mesmos materiais que elas estão destinadas à reciclar.
Nota: As citações aqui utilizadas são fragmentos da descrição dos projetos publicados anteriormente pelo ArchDaily a partir de textos enviados pelos seus autores. Descubra mais projetos de referência na pasta do My ArchDaily criada pela autora.
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